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Manguebeat, inteligência artificial e o futuro da música


capa do disco "da lama ao caos" de chico science e nação zumbi

No último episódio da TRAMA, ao ser questionado sobre suas referências musicais e artísticas, Felipe Fiúza falou um pouco do manguebeat. Trata-se de um movimento de contracultura surgido em Recife, Pernambuco, nos anos 1990, que teve o cantor Chico Science como um de seus principais colaboradores.


No artigo “O manguebeat que resiste e conecta Recife às origens cosmopolitas”, publicado no TAB UOL, Lidia Zuin escreveu sobre como o gênero artístico representa um novo paradigma na arte brasileira. Ao misturar ritmos regionais, como o maracatu e o coco, a ritmos “importados”, como o rock, funk, hip-hop e música eletrônica, o movimento une tradição e modernidade para, através de um ritmo inovador, falar da desigualdade social de Recife, criando um lugar de fala a partir da perspectiva local.


Entre as muitas frases que marcam Fiúza, o trecho “computadores fazem arte/

artistas fazem dinheiro”, da música “computadores fazem arte”, de Chico Science e Nação Zumbi, foi a deixa para uma reflexão extra em torno da tecnologia e do papel da Inteligência Artificial no cenário de criação musical no futuro.


No livro 21 Lições para o Século XXI, Yuval Noah Harari discorre sobre os avanços da Inteligência Artificial, levantando a hipótese de que a AI será capaz de escrever música melhor que os humanos. Segundo o autor, muitas vezes escutamos música para sentir algo, trazer à tona algum sentimento. A AI será capaz de criar músicas conforme nossas emoções. Será?


LifeScore


Com um pensamento similar e um tanto cansado de ter que encontrar a música perfeita para o mood do momento, o compositor Philip Sheppard pensou no quanto seria útil a existência de um sensor junto aos fones de ouvido que fosse capaz de refletir o ambiente e o humor de quem os estivesse usando.


Sheppard é o fundador da plataforma musical LifeScore, que cria trilhas sonoras exclusivas e em tempo real para cada jornada do ouvinte, unindo o trabalho de músicos e compositores mundialmente reconhecidos à Inteligência Artificial. Um software capaz gerar trilhas sonoras que se adaptam ao ambiente e aos fones de ouvido, criando uma experiência musical única a cada acesso.


Jukebox


No final de abril, a empresa de desenvolvimento de inteligência artificial OpenAI lançou uma nova rede neural, a Jukebox, que pode criar mashups e músicas originais no estilo de mais de 9.000 bandas e músicos. Tentando ultrapassar os limites da música criada pela IA, a empresa de mídia Futurism fez um pedido para que músicos e especialistas em ciência da computação do grupo DADABOTS: queriam ouvir Frank Sinatra cantar "Toxic", de Britney Spears. ⁠E ouviram.


A Inteligência Artificial tem sido cada vez mais utilizada para auxiliar na criação de músicas, gerando combinações e ideias para que os produtores ou artistas transformem em faixas. Permite gerar novas composições antes impossíveis. Imagine unir dois de seus cantores preferidos, que tenham estilos completamente diferentes e que talvez nem estejam mais aqui?!


Isto também levanta questões importantes em torno de direitos autorais, como no caso em que envolve Frank Sinatra e Britney Spears. Reformulações e adições de direitos podem ser necessárias.


Inteligência Artificial X Transcendência Humana


Ao ser questionado sobre se a Inteligência Artificial algum dia seria capaz de escrever uma boa música, o músico australiano Nick Cave disse foi enfático. Segundo ele, ao ouvirmos os músicos de que gostamos, estamos indo além do contato com nossas emoções. O que estamos realmente ouvindo é a limitação humana e a audácia de transcendê-la. Para o autor, se tivermos um potencial ilimitado, o que há para transcender? Esta, seria, inclusive, a razão principal pela qual somos seres criativos e imaginativos.


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E você? Já tem uma opinião formada sobre isso? Fazendo o gancho com as referências de Fiúza, se o manguebeat foi um movimento de contracultura para expor as desigualdades sociais de Pernambuco, poderia a Inteligência Artificial, algum dia, substituir a voz humana na criação de gêneros artísticos? Estaríamos nós fadados a perder a graça da busca pela batida perfeita?


Felipe Fiúza já tem a resposta:


Música é memória. Você escuta música e chora porque ela te lembra um fato, uma sensação, uma pessoa. Música é história, é lembrança, sensação, sentimento. Eu não consigo ver a música como algo só feito de ondas e que possa ser realmente todo transformado e construído por computador.

#guiafuturabilidade #TRAMA #música #inteligênciaartificial #manguebeat


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