Guia
5 princípios para pensar como um futurista

Já falamos algumas vezes a respeito do quanto o pensamento sistemático sobre o futuro é importante para que possamos fazer escolhas melhores no presente. Aliás, essa é a base do discurso do nosso trabalho. E para enriquecê-lo, é fundamental que apresentemos também as reflexões e opiniões de outros especialistas na área.
Em 2018, Marina Gorbis, diretora executiva do Institute for the Future (IFTF), desenvolveu um documento no qual compartilhou 5 princípios para pensar como um futurista. A fim de democratizarmos o acesso a tais informações, fizemos uma tradução livre e um resumo de cada um deles.
1- Esqueça as previsões
Se alguém lhe disser que pode prever o futuro, esqueça! É muito difícil prever grandes problemas socioeconômicos, transformações tecnológicas e o tempo exato em que isso vai acontecer. Antes de qualquer coisa, é preciso um entendimento de transformações grandes e complexas.
Uma forma de buscar essa compreensão é observar a diferença entre ondas e marés. As ondas são aquilo que vemos na superfície. São eventos fugazes, que vêm e vão, aparecem e desaparecem. No entanto, debaixo dessas ondas está a maré, uma força maior que as direciona, condicionando a sua formação.
Nos Estudos de Futuros, a intenção é compreender as forças que estão por trás das ondas. Essa investigação é o que permite a criação de um mapa para o futuro e, consequentemente, a visão de grandes área de oportunidade.

2- Foque nos sinais
Segundo Gorbis, os sinais são as ferramentas que temos para nos ajudar a pensar sistematicamente sobre o futuro e desenvolver as previsões, já que não existem dados sobre o futuro e os dados sobre o passado só são úteis quando as coisas permanecem imutáveis no presente, o que não é o caso do mundo em que vivemos.
Um sinal pode ser qualquer coisa. Uma tecnologia, aplicativo, produto, serviço, experiência, história, observação pessoal, projeto de pesquisa ou protótipo, uma notícia ou simplesmente um pedaço de dados que mostra algo diferente. Um sinal é, portanto, qualquer coisa que nos faça querer cavar e questionar: “Por quê? O que está causando essa situação?".
A autora cita um interessante exemplo de sinal identificado com a criação do
eBay, em 1995, quando pessoas desconhecidas entre si começaram a negociar umas com as outras. A inovação crítica do eBay foi a criação de um sistema de reputação tanto para o vendedor quanto para o comprador. O sinal foi tão replicável que hoje todas as transações online dependem de algum sistema de reputação, com esta tornando-de um novo tipo de moeda.
No contexto das organizações, o ideal seria que as pessoas se reunissem para compartilhar suas observações em torno dos sinais. Uma organização sensível precisa preparar sua equipe para criar alguns meios, formais ou informais, de agregar esses sinais e trabalhar para interpretá-los. Isso permitirá feedback e orientação sobre as tomadas decisões.

3- Olhe para trás para ver adiante
Embora Gorbis tenha convicção de que não é possível confiar totalmente no passado, ela entende e enxerga a existência de diversos padrões que tendemos a repetir várias vezes ao longo da história.
Por esse motivo, para enxergar o futuro, é preciso também olhar para trás. Assim, para além de uma futurista, a diretora executiva do Institute for the Future se considera também uma historiadora.
Como exemplo, ela cita a invenção da imprensa e o fato de que a preocupação com a propagação de informações falsas e propagandas mentirosas sempre esteve à tona. O que aconteceu ao longo da história, porém, foram as mudanças de suporte e das dinâmicas de poder.
Hoje, as novas ferramentas de mídia potencializam o alcance de múltiplas vozes, e quem domina a sua dinâmica de funcionamento, obviamente, tem mais capacidade de moldar opiniões. Com isso, assim como nos dias de Gutenberg, estamos novamente tentando descobrir quem tem autoridade para dizer o que é verdadeiro ou não.

4- Descubra padrões
Quando conseguimos agregar os sinais e conectá-los a um contexto histórico mais amplo, conseguimos entender melhor quais são os padrões de mudança (as marés já mencionadas por Marina Gorbis anteriormente). Isso nos dará a base para chegar aos principais desenvolvimentos que moldam o nosso futuro.
O Institute for the Future trabalha com um padrão chamado estrutura de duas curvas, criado por Ian Morrison, ex-presidente do IFTF, autor do livro “The Second Curve”. Morrison argumenta que vivemos simultaneamente as mesmas curvas em qualquer período de grande transformação.
A primeira curva é a curva descendente. A curva em que vivemos há muito tempo conforme regras, regulamentos, padrões de uso. A curva da maneira como aprendemos a viver. Mas essa maneira está declinando de alguma forma, em um ângulo difícil de precisar. Ao mesmo tempo, uma nova maneira de fazer as coisas está emergindo, representada pela curva nascente.
No livro “The Nature of the Future”, Gorbis escreve que a curva em declínio é a curva da produção institucional. É um sistema no qual a maioria dos recursos - dinheiro e pessoas - está concentrada em grandes organizações formais, sejam corporações, organizações de notícias ou faculdades/universidades.
Segundo a autora, estamos passando da produção institucional para a criação socialmente estruturada, em que uma única plataforma possui o potencial de envolver um grande número de pessoas para criar algo que nenhuma organização formal poderia, com pouca ou nenhuma estrutura formal.
Um exemplo é a Wikipedia, que tem milhões de colaboradores e bilhões de usuários de todo o mundo. Estamos vendo essa nova maneira de fazer as coisas no software de código aberto, na mídia e em outras partes de nossas vidas.

5- Crie uma comunidade
O quinto e último princípio enumerado por Marina Gorbis é destacado por algo em que acreditamos muito: construir comunidades e construir comunidades com diversidade. Para a diretora executiva do Institute for the Future, pensar no futuro é um assunto colaborativo e altamente comunitário, no qual é preciso envolver especialistas de vários domínios diferentes.
“Quando pensamos em algo, do ensino superior ao trabalho, precisamos incluir pessoas que tragam perspectivas diferentes sobre o assunto - demografia, economia, tecnologia, inteligência artificial, organizações.”
Assim, uma previsão robusta é um empreendimento coletivo; um produto da inteligência coletiva. Portanto, se você deseja criar um mecanismo de detecção e sinalização para sua empresa, é importante que você se certifique de não atrair pessoas que pensem da mesma maneira.

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